história da tauromaquia
As Touradas ou Corridas de Touros têm uma história longa e riquíssima. Descobre mais sobre esta arte fascinante.
As origens da relação do Homem com o touro perdem-se na História. São prova disso várias manifestações de arte rupestres do Paleolítico Superior, como por exemplo as existentes em Portugal - Foz Côa (18.000-15.000 A.C.) e em França - Lascaux (15.000-13.000 A.C.), que expressam a relação de admiração e veneração do Homem pelo touro.
O touro (mais concretamente o seu antepassado Auroque) sempre foi visto como um animal místico, alvo de cultos religiosos, símbolo de fertilidade e da virilidade. Deste modo, o enfrentamento do touro pelo Homem era uma forma deste se apoderar dessas qualidades. Este enfrentamento manifestou-se nas mais diversas sociedades mediterrâneas e do Médio Oriente, como podemos ver na Epopeia de Gilgamesh – Mesopotâmia, II milénio a.C. - nos frescos do palácio de Knossos - em Creta (Grécia), civilização Minóica - nos mitos da antiguidade grega como o do Minotauro e do Rapto de Europa, que deu nome ao continente Europeu. Esta influência mantém-se, até aos dias de hoje, na arte e cultura da civilização ocidental.
A tauromaquia resulta dessas influências. Com origem na caça e na preparação do Homem e dos cavalos para a guerra, as corridas de touros celebravam-se para marcar momentos importantes da sociedade portuguesa, como a celebração de casamentos e coroações reais, nascimento de príncipes, preparações para batalhas, cerimónias religiosas, acções de solidariedade, homenagens a chefes e dignitários de Estados de visita a Portugal, entre outros.
DAS ORIGENS AO SÉCULO XVIII
A primeira referência a uma actividade taurina em Portugal data de 1258, nas Inquirições de D. Afonso III, onde se refere que D. Sancho I (1154 -1211), o segundo rei de Portugal, alanceou toiros no Campo das Almoínhas, em Lamego. Alancear toiros significava matar toiros com uma lança.
Estas práticas taurinas vinham já de antes da fundação de Portugal, sendo impossível definir a data da sua origem. Desde a origem da nacionalidade que se realizavam corridas de touros nas principais praças públicas da cidades e vilas de Portugal, onde se montavam praças, tipicamente com formas quadradas, feitas em madeira, que eram desmontadas posteriormente aos festejos. Em Lisboa, por exemplo, até ao final do século XVIII, essas corridas realizavam-se Terreiro do Paço e no Rossio. Em Viana do Castelo, no século XVII, realizavam-se na actual Praça da República, em Évora na Praça do Giraldo. Assim era em todo o país, de norte a sul, passando pelas Ilhas.
Em Lisboa também se realizavam corridas em Xabregas (século XVI) onde toureou o rei D. Sebastião, na Junqueira (Belém) e na Estrela (ambas no século XVIII), com a intervenção de reis e fidalgos, em espectáculos que eram oferecidos ao povo, pelo Senado de Lisboa ou pela Casa Real. Nestas corridas, depois de umas cortesias demoradas e exuberantes, eram lidados cerca de 20 touros que eram mortos à lança pelos cavaleiros, que eram auxiliados pelos capinhas (os actuais peões de brega). Mais tarde, a partir do século XVI, passou a usar-se o rojão em vez da lança para matar os toiros. A partir do século XVII, os forcados começam progressivamente a participar no espectáculo (a primeira referência escrita data de 1661) e, desde o século XVIII intervinham, também, por vezes, os matadores, que matavam os touros a pé.
A grande popularidade atingida por estes festejos abriu as portas à sua exploração comercial. Depois da Praça da Junqueira, em Belém, (a primeira em formato circular) inaugurada em 1738, inaugura-se a Praça de Touros do Salitre em 1790, financiada por um grupo de aficionados, com a presença do futuro rei D. João VI.
Desde a sua origem o toureio era somente praticado a cavalo. Até ao século XVIII o toureio em Portugal e Espanha era igual, com a lide e morte dos toiros a cavalo. A partir dessa época em Portugal continuou a predominar o toureio a cavalo, aparecendo também a figura do Forcado, enquanto que em Espanha surgiram os matadores de toiros a pé, que hoje predominam na tauromaquia espanhola. Por esta razão Portugal é a pátria do toureio equestre, distinguindo-se de Espanha, a pátria do toureio a pé.
SÉCULO XIX
Por iniciativa do "rei toureiro" D. Miguel, grande aficionado, foi inaugurada a 3 de Julho de 1831, a praça de touros do Campo de Sant'Anna, que foi durante sessenta anos a praça da capital. D. Miguel presidiu à sua inauguração. As corridas estiveram proibidas entre 1836 e 1837, por acção do primeiro-ministro Passos Manoel, mas o descontentamento popular foi tão grande que passados nove meses a proibição foi revogada. A partir desta data deixam de se matar os touros na arena, apesar de não ter existido nenhuma proibição legal para tal. Devido a esta situação os touros passaram a ser lidados mais de uma vez, o que se chamou de "Toiro Corrido". Esta situação levou a um retrocesso na evolução artística do toureio, pois um toiro depois de lidado uma vez, torna-se impossível de lidar com brilhantismo e arte.
Foi nesta Praça do Campo de Sant'Anna que se consolidou o profissionalismo, tanto dos artistas como dos promotores do espectáculo. Por esta praça passaram os grandes matadores espanhóis da época, como António Carmona "Gordito", "Lagartijo" e "Frascuelo" e cavaleiros como o Marquês de Castelo Melhor, Conde de Vimioso, Marquês de Belas ou Manuel Mourisca, dinastias de bandarilheiros como os Robertos (pai e filhos), João do Rio Sancho, João Calabaça, os Peixinhos (pai e filho) ou Cadetes (pai e filho), e os melhores forcados, vindos da Borda D'água, o Ribatejo.
Encerrada a praça de touros do Campo de Sant'Anna por esta deixar de reunir condições de segurança (em 1889), deu-se início à construção da Praça de Touros do Campo Pequeno, propriedade da Real Casa Pia de Lisboa, que viria a ser inaugurada a 18 de Agosto de 1892.
SECULO XX
O ambiente tauromáquico da transição do século XIX para o século XX é dominado pela competição entre os cavaleiros Manuel Casimiro de Almeida e Fernando de Oliveira, que viria a falecer no Campo Pequeno, a 12 de Maio de 1904, colhido pelo toiro "Ferrador", da ganadaria do Marques de Castelo Melhor. O cavaleiro Victorino de Avelar Froes destaca-se nesta época, não só pelas suas capacidades artísticas e equestres, mas também por ser um dos percursores da reposição do touro puro (lidado apenas uma vez), iniciando um processo de transformação, que vai marcar o toureio a cavalo do século XX. Em 1915, António Gomes de Abreu funda o Grupo de Forcados Amadores de Santarém, sendo o percursor do modelo amador de forcados que hoje existe. Este é o mais antigo grupo de amadores, com actividade ininterrupta.
As praças de Portugal ficam também marcadas pela presença da parelha de matadores da "Idade de Ouro" do Toureio a Pé: José Gomez Ortega "Josellito" e Juan Belmonte e que veio a desfazer-se com a morte de "Josellito" a 16 de Maio de 1920, em Talavera de la Reina, colhido pelo toiro "Bailaor" da ganadaria de Viúva de Ortega.
Em Portugal, onde ainda não existiam matadores, havia um naipe de bandarilheiros de primeira categoria, que colocavam bandarilhas e lidavam de capote e muleta, entres os quais se destacavam os irmãos Cadete, os irmãos Roberto, e irmãos Peixinhos, Manuel dos Santos, entre outros.
Idade de Ouro do Toureio a Cavalo 1920 - 1950
Ao longo da História do Toureio, muitas têm sido as rivalidades entre artistas que marcam profundamente várias épocas. Ao contrário de Espanha, onde por razões políticas perdeu importância, o toureio a cavalo em Portugal continuou a desenvolver-se, sendo praticado quer por profissionais, normalmente de origem popular, quer por fidalgos, geralmente com estatuto de amadores.
Esta época é marcada por dois cavaleiros extraordinários: João Branco Núncio (1901-1976) e Simão da Veiga Jr. (1903-1958), os quais protagonizam a chamada "Idade de Ouro do toureio a cavalo". Núncio revoluciona o toureio a cavalo, impondo o touro puro (lidado uma só vez), acabando com o touro corrido (lidado várias vezes). Esta alteração permitiu que o toureio equestre se emancipasse definitivamente como Arte. É, também, por influência de João Núncio que os cavaleiros deixam de usar cabeleira empoada e luva branca durante as lides. Núncio é a referência máxima do toureio clássico e da pureza técnica enquanto o toureio de Simão da Veiga Jr. era exuberante, chegando facilmente ao público.
Este período é marcado, também, por uma geração de cavaleiros, onde se destacam António Luís Lopes, José Casimiro Jr., D. Francisco Mascarenhas e Joaquim Murteira Correia.
Na temporada de 1927 realizam-se legalmente, no Campo Pequeno, quatro corridas de touros de morte. Estas corridas tiveram fins de beneficência, correspondendo ao objectivo de restaurar a lide integral em Portugal. Apesar desta tentativa em 1928 veio a proibição legal dos toiros de morte.
No final dos anos 40, surge nas arenas, e no Campo Pequeno, a cavaleira Conchita Cintrón, de origem norte-americana e peruana, considerada a mais famosa toureira feminina da história. Destacava-se por lidar touros a pé e a cavalo.
Os Mexicanos 1930 - 1950
Em 1936, Espanha e México rompem o Convénio estabelecido entre si, impossibilitando que os toureios mexicanos actuassem em Espanha e vice-versa. Assim, Portugal tornou-se o destino europeu dos matadores mexicanos, que deixaram marcas profundas na tauromaquia portuguesa. Exemplos disso são Carlos Arruza, Luis Freg, "El Soldado", "El Estudiante", Gregório Garcia, Fermin Espinosa "Armillita", Luis Procuna, Fermin Rivera, que se confrontaram na arena do Campo Pequeno com os espanhóis "Manolete", Luis Miguel Dominguin, Pepe Luis Vasquez, Manolo Bienvenida e Marcial Lalanda. De todos estes, Gregório Garcia, pelo seu estilo de tourear, viria a ter enorme influência no aparecimento dos primeiros matadores de touros portugueses.
No Campo Pequeno nasceu a rivalidade entre os matadores Manuel Rodriguez Sanchez "Manolete" (espanhol) e Carlos Arruza (mexicano). Aqui actuaram juntos pela 1ª vez a 4 de Junho de 1944, durando até à morte de "Manolete", a 29 de Agosto 1947, colhido pelo toiro "Islero" de Miura, na cidade espanhola de Linares.
Em 1933, apesar da proibição legal, continua a lutar-se pela autorização das corridas integrais, tendo o Governo permitido a realização de quatro corridas com touros de morte, criando uma Comissão para opinar sobre esse tema. Nestas corridas intervieram, entre outros, os cavaleiros António Luís Lopes, João Núncio, D. António de Mascarenhas e os matadores Marcial Lalanda, Manolo Bienvenida, Domingo Ortega, Pepe Bienvenida, e Victoriano de la Serna.
Na década de 40, D. Fernando Mascarenhas, notável forcado amador e cabo do Grupo de Forcados Amadores de Santarém, passa a citar os touros a maior distância, criando o citar de largo como hoje vemos nas pegas.
Os Primeiros Matadores Portugueses 1947 - 1960
Depois de muitas gerações de capinhas (bandarilheiros) portugueses famosos, que lidavam toiros a pé, Portugal ainda não tinha nenhum matador de alternativa. O primeiro português a apresentar-se em Espanha, a tourear reses bravas, na categoria de novilheiro, foi Augusto Gomes Júnior (13 Junho 1946 - Pamplona). Contudo, o primeiro português a tomar alternativa de matador de toiros foi Diamantino Vizeu (23 Março 1947–Barcelona), abrindo a porta a um novo capítulo da história da Tauromaquia Portuguesa, onde se destacam Manuel dos Santos (15 Agosto1948 - Sevilha), Francisco Mendes (10 Agosto 1954 – Málaga), Armando Soares (30 Setembro 1962 – Sevilha), Amadeu dos Anjos (13 Setembro 1963 – Salamanca).
Diamantino Vizeu (1925-2001), juntamente com Manuel dos Santos (1925-1973), protagonizou a "Idade de Ouro do toureio a pé em Portugal" durante as décadas de 50 e 60 do século XX, sendo duas figuras do toureio muito acarinhadas pelo público. Manuel dos Santos foi um matador de projecção mundial, tendo sido aquele que mais toureou, em todo o Mundo, na temporada de 1950, com um total de 93 corridas. Foi empresário do Campo Pequeno. Ao longo da sua gestão, promoveu várias inovações na área da gestão, que se mantêm até aos dias de hoje, como as Corridas TV, os Bilhetes com desconto, as garraiadas estudantis e as Corridas de Calendário. Ficaram célebres as "Fabulosas Corridas de Verão".
De então para cá, a lista de Matadores de Toiros portugueses conta já com 40 nomes, sendo os mais destacados, pela sua projecção internacional, além de Diamantino e Manuel, António dos Santos (n.1929), Francisco Mendes (n.1932), José Trincheira (n.1935), José Júlio (n.1935), Armando Soares (n.1935), Mário Coelho (n.1937), Amadeu dos Anjos (n.1942), José Falcão (1944-1974, colhido mortalmente em Barcelona, a 11 de Agosto), Vítor Mendes (n. 1959), Rui Bento Vasquez (n.1965) e Alexandre Pedro "Pedrito de Portugal" (n. 1974).
A nova Vaga do toureio equestre 1960 - 1980
José Mestre Batista tomou a Alternativa a 15 de Setembro de 1958, na Moita do Ribatejo, depois de ter sido reprovado na prova que prestara, no Campo Pequeno, a 15 de Julho do mesmo ano. É o único caso na história da tauromaquia de um cavaleiro ter sido reprovado na Alternativa.
O seu estilo revolucionou a arte de tourear a cavalo. Marcou uma época. Ficaram célebres as suas competições com Luis Miguel da Veiga e José João Zoio, a nível nacional, e com o espanhol Álvaro Domecq, tanto em Portugal como em Espanha. Mestre Batista tornou-se num cavaleiro querido do público de norte a sul do país, sendo uma figura muito mediática.
Faleceu prematuramente, a 17 de Fevereiro de 1985, em Zafra (Espanha), vítima de asma. Foi condecorado a título póstumo pelo Presidente da República, General Ramalho Eanes, com a Ordem do Infante D. Henrique.
Executar "ferros à Batista" foi o grande objectivo artístico da geração de cavaleiros tauromáquicos que se lhe seguiu. Batista, o "Beatle das Arenas" em versão portuguesa, constituiu com o matador de toiros espanhol Manuel Benitez "El Cordobés" (a versão espanhola do "Beatle das Arenas") um dos casos de maior popularidade de sempre no mundo tauromáquico.
Os anos sessenta e setenta do século XX são um "tempo" marcado pela presença de grandes matadores de toiros nas arenas portuguesas. Além de "El Cordobés" acrescentam-se nomes como os de António Ordoñez, Paco Camino, Diego Puerta, Santiago Martin "El Viti", Dâmaso Gonzalez, Francisco Rivera "Paquirri" e Curro Romero, que alternaram com matadores portugueses como Armando Soares, Mário Coelho, Amadeu dos Anjos, Ricardo Chibanga (o primeiro matador de touros africano, de Moçambique) ou José Falcão.
A revolução Mourista 1980 - 2001
João Moura é um génio do toureio e o cavaleiro que mais modificou a arte de tourear nas últimas décadas, sendo dos mais célebres cavaleiros da história da Tauromaquia. Definiu um estilo e uma forma de tourear que o levaram ao topo com apenas 17 anos. O seu estilo caracteriza-se pela ligação entre o cavalo e o touro, funcionando o cavalo como se fosse o capote de um matador.
João Moura simboliza o "grande salto" na evolução do toureio a cavalo depois de João Núncio. A sua revolução ultrapassou fronteiras, influenciando, decisivamente, tanto o toureio a cavalo em Portugal como em Espanha. Abriu por sete vezes a porta grande da Monumental de Las Ventas, a primeira das quais com apenas 17 anos.
A geração de cavaleiros portugueses do último quartel do século XX e início do século XXI constitui um dos naipes mais valorosos da história da tauromaquia, pela quantidade e pela qualidade. Para além de João Moura: Emídio Pinto, Joaquim Bastinhas, Paulo Caetano, João Palha Ribeiro Telles, António Ribeiro Telles, Rui Salvador, João Salgueiro, Luis Rouxinol., influenciaram profundamente a evolução do toureio a cavalo em Portugal e Espanha e, hoje em dia, são os filhos de vários deles, também cavaleiros, que asseguram a continuidade dos seus feitos nas arenas.
No que se refere ao toureio a pé, estes anos ficam marcados pela projecção internacional do matador português Vitor Mendes, que durante muitas temporadas se manteve no topo, e do fenómeno "Pedrito de Portugal", um verdadeiro caso mediático, que enquanto novilheiro arrastou atrás de si a aficion portuguesa, mas cujo percurso como matador não conseguiu manter esse impacto.
Concluindo, o toureio equestre português é baseado em evoluções de alta escola. A partir do século XVIII , ao passar a usar-se a bandarilha, este ganhou formas cada vez mais artísticas, sendo hoje em dia uma arte performativa consumada.
A corrida à portuguesa resulta de séculos de transformações, sendo na actualidade o reflexo de mais de 800 anos da história de Portugal, sendo uma joia valiosíssima do património cultural português.
1139D. Afonso Henriques celebra a vitória de Ourique com festa de touros em CoimbraFrei António Brandão (autor do século XVII) refere na 3ª parte da Monarchia Lusitana que após a vitória na batalha de Ourique, D Afonso Henriques regressou a Coimbra em celebração da vitória "pregou o arcebispo de Braga D. João, disse missa o bispo de Coimbra D. Bernardo, houve procissão de grande aparato; seguiram-se canas, touros e mais festas...".
1258 D. Sancho I alanceava touros em LamegoAs Inquirições de D. Afonso III referem que D. Sancho I costumava alancear touros (matar touros com uma lança) numa almuinha perto de Lamego.
1383Festejos taurinos pelo casamento da infanta D. BeatrizCelebrando o casamento da filha do rei D. Fernando, a Infanta D. Beatriz, com D. João de Castela, em Badajoz, realizaram-se festejos taurinos.
1428Festejos Taurinos pelo casamento de D. DuarteD. Henrique numa carta ao seu pai, o rei D. João I relata o casamento de D. Duarte com D. Isabel de Aragão, em Coimbra, dizendo que "mandou D. Guiomar aqui correr dois touros à infanta e correram-nos ambos juntos, um no curral dos paços e outro onde se fizeram as justas, diante de Santa Clara".
Agosto 1436 O rei D. Duarte alanceou touros em LeiriaAntes da expedição a Tânger D. Duarte alanceou touros. Este rei escreveu o "Tratado de Ensinança de Bem Cavalgar Toda a Sela" (1438), onde abordou a forma de alancear bestas (urso, touro ou porco).
1455Festejos Taurinos pelo casamento da Infanta D. LeonorO cronista Rui de Pina refere que depois do casamento de D. Leonor e o Imperador alemão Frederico III, em Lisboa, D. Afonso V, irmão da infanta, "desafiou os cavaleiros para as justas reais, que manteve na Rua Nova (...) E depois das justas houve touros e canas...".
?D. João II manda correr toiros em ÉvoraDiz Garcia de Resende que estando D. João II em Évora durante o Corpo de Deus e pela vinda do príncipe D. Afonso, "houve na cidade muitas festas e touros".
1490 ÉvoraFestejos Taurinos pelo casamento do principe D. AfonsoGarcia de Resende refere que em Évora, por ocasião do casamento do príncipe D. Afonso com a infanta D. Isabel de Castela, "houve na praça da cidade e no terreiro dos paços, muitas vezes muitos touros com muitos galantes a eles e ricos jogos de canas e muitos momos e serões e músicas e festas sem nunca cessarem".
1490 SantarémFestejos Taurinos pelo casamento do principe D. AfonsoGarcia de Resende refere que depois de Évora os recém casados partiram para Santarém juntamente com a corte onde "houve muitos touros e galantes a eles ricamente ataviados."
22 Maio 1565 Tourada no RossioPor ocasião do casamento de D. Maria, filha do rei D. Manuel I, com o Duque de Parma, deram-se touros na praça do Rossio.
1567Papa Pio V excomunga quem participasse em touradasNuma bula papal Pio V excomungava quem participasse neste tipo de festejos, com o objectivo de evitar as mortes ocasionais de algum interveniente e salvar a sua alma. Em Portugal não teve qualquer efeito e os Papas seguintes Gregório XIII (1573) e Clemente VIII (1596) revogaram a bula de Pio V.
1578D. Sebastião lida touros em XabregasO aficionado rei D. Sebastião promoveu festejos taurinos numa praça em Xabregas (Lisboa) antes da partida para Alcácer Quibir. Nestes festejos já se usou o rojão para matar os touros em vez da lança.
1649Corrida em celebração do nascimento de D. Pedro IINo Terreiro do Paço correram-se touros para celebrar o nascimento do infante D. Pedro, futuro D. Pedro II.
10 Outubro 1661Primeira referência aos ForcadosNa primeira das três corridas de touros que se celebraram no Terreiro do Paço, comemorando o acordo de casamento entre D. Catarina de Bragança e Carlos II de Inglaterra, surge a referência à participação de "toureiros de forcado" e a um forcado chamado "Ferro".
10 Março 1662Touros Reais no Terreiro do PaçoPara celebrar o casamento de D. Catarina de Bragança, filha de D. João IV, com Carlos II de Inglaterra, deram-se 3 dias de touradas no Terreiro do Paço.
Agosto 1669Touradas no Rossio em honra de Sto. AntónioNos dias 13, 16 e 19 Agosto correram-se touros no Rossio, numa organização do Senado de Lisboa, em honra de Santo António, e com a presença da corte.
14 Setembro de 1676Lei que obriga ao corte das pontas dos cornos dos tourosD. Pedro II decreta uma Lei afirmando que os touros que forem lidados têm de ter as pontas dos cornos cortadas para evitar a morte de homens e cavalos.
1678Publicação "Arte da Cavalaria de Gineta e Estardiota"Compêndio escrito por António Galvão de Andrade, estribeiro de D. João IV e discípulo do Marquês de Marialva, que aborda aspectos técnicos da equitação e toureio.
Março 1738Construção da primeira praça redondaD. Jaime, Duque de Cadaval, mandou construir na Junqueira (Belém) a primeira praça de touros em formato redondo, para celebrar o vigésimo aniversário da Princesa D. Maria Vitória, filha de Filipe V e futura mulher de D. José I.
1777Pedro Romero no Terreiro do PaçoNa coroação de D. Maria I actuou o famoso matador espanhol Pedro Romero. Nesta corrida lidaram-se 20 touros tendo Pedro Romero matado 4 touros a pé.
4 Junho 1790Inauguração da Praça de Touros do SalitrePraça de forma quadrada, foi inaugurada com a presença do futuro rei D. João VI. Foi seu construtor e primeiro empresário o boticário João Gomes Varela. Demolida em 1879.
3 Julho 1831Inauguração da Praça de Touros do Campo de Sant'AnaNa presença do rei D. Miguel I, correram-se 16 touros. Aqui tourearam os matadores espanhóis e os cavaleiros portugueses mais prestigiados do sec. XIX. Encerrou em 1889 por degradação do edifício.
1836 - 1837Período de proibição de corridas de tourosPor acção do primeiro ministro Passos Manoel foi decretada a proibição das corridas de touros, a 19-09-1836. Foi revogada apenas 9 meses depois, a 30-07-1837, pelas Cortes Constituintes, devido à impopularidade da mesma. Foi a única vez que as Touradas estiveram realmente proibidas em Portugal.
18 Agosto 1892Inauguração da Praça de Touros do Campo PequenoConstruída pela Empresa Tauromáquica Lisbonense (formada em 1891), foi inaugurada com a presença do Infante D. Afonso, irmão do Rei D. Carlos.
12 Maio 1904Colhida mortal do cavaleiro Fernando de OliveiraFoi a primeira vítima mortal na arena do Campo, colhido pelo touro "Ferrador", do Marquês de Castelo Melhor, ao derrubá-lo do cavalo "Azeitona". Morreu a caminho do hospital de S. José.17 Outubro 1910Tourada de Celebração da Implantação da RepúblicaApenas 12 dias depois da implantação da República foi organizada uma corrida de celebração da República na Praça de Toiros do Campo Pequeno, em que participaram os cavaleiros Eduardo Macedo e Morgado de Covas e o matador espanhol Agustín Garcia "Malla".
23 Outubro 1910Tourada em Benefício das vítimas do 5 de OutubroRealizou-se na Praça de Toiros do Campo Pequeno uma corrida em benefício dos familiares das vítimas dos acontecimentos do dia 5 de Outubro. Nela participaram os cavaleiros João Marcelino, José Bento de Araújo, Manuel Casimiro, Adelino Raposo, Eduardo Macedo, José Casimiro e Morgado de Covas, que lidaram um curro de Emílio Infante da Câmara.
12 de Maio de 1918Tourada de Homenagem a Sidónio PaisSidónio Pais, um dos Presidentes da República que maiores multidões arrastou, teve também uma corrida em sua homenagem, na qual, com toiros de João Coimbra, se apresentaram os cavaleiros Morgado de Covas, Adolfo Machado, Rufino da Costa, Francisco Bento e Ricardo Teixeira.
16 de Maio de 1920Tourada de Homenagem a António José de Almeida No mesmo dia (e à mesma hora?) que José Gomez Ortega "Gallito" morria em Talavera de la Reina, nos cornos de "Bailador", realizava-se na Praça de Toiros do Campo Pequeno uma corrida de homenagem ao então Presidente da República, António José de Almeida.
4 Junho 1922Alternativa de Simão da Veiga Jr. Concedida por seu pai, Simão Luís da Veiga. O seu toureio caracterizava-se por ser exuberante na brega, valente a cravar, bandarilhando a duas mãos. Foi o primeiro português a cortar uma orelha em Madrid (Las Ventas). Morreu a 19 de Agosto de 1958.
27 Maio 1923Alternativa de João Branco NúncioConcedida por António Luiz Lopes. Núncio revolucionou o toureio a cavalo, impôs o touro puro, abordando o touro de frente e dando-lhe a primazia a investir. É o expoente máximo do toureio clássico a cavalo.
1927Touros de Morte no Campo PequenoNa Corrida a favor da Liga dos Combatentes, a 12 de Junho, com a presença do Presidente da República e vários ministros, os matadores Fausto Barajas e Juan Espinosa "Armillita" matam dois touros. Nesse ano realizaram-se legalmente mais três corridas com touros de morte.
5 Outubro 1933Última corrida legal com Touros de MorteNa temporada de 1933 realizaram-se, legalmente, 4 corridas com touros de morte no Campo Pequeno (30 de Abril, 7 de Maio, 30 de Julho e 5 de Outubro).
13 Junho 1946Augusto Gomes Jr. apresenta-se em MadridPercursor do toureio a pé em Portugal, Augusto Gomes Júnior é o primeiro português a apresentar-se em Madrid, ainda como novilheiro. Veio a ser o segundo português a tomar alternativa de matador de touros (Ago. de 1947)
27 Março 1947O primeiro matador português da históriaDiamantino Vizeu toma a alternativa de matador de touros, em Barcelona, apadrinhado por "Gitanillo de Triana", tornando-se no primeiro matador de touros português da história.
15 Agosto 1948Alternativa de Manuel dos SantosToma alternativa em Sevilha tendo por padrinho "Chicuelo II". Foi um matador de projecção mundial e um dos matadores portugueses mais importantes de sempre. No ano de 1950, foi o matador que mais toureou em todo o mundo: 93 corridas.
3 Junho 1951Manuel dos Santos mata um touro no Campo PequenoDepois de terminar a corrida foi detido pela PSP. Anos mais tarde foi julgado e absolvido. Mataram-se touros ilegalmente no Campo Pequeno a 24 de Setembro de 1959 (António dos Santos) e a 20 de Junho de 1974 (José Falcão).
26 Outubro 1952Angariação de fundos para a construção do Estádio da LuzPor duas vezes se realizaram festejos taurinos para ajudar a levantar este estádio: Primeiro para a sua construção e mais tarde para a construção do terceiro anel.
10 Setembro 1953Colhida mortal do forcado João RaivaNa noite em que receberia o comando do grupo de Forcados Profissionais de Lisboa, sofreu perfuração de uma vista com uma bandarilha que lhe atingiu o cérebro, em consequência do que, viria a falecer no dia seguinte.
14 Abril 1963Apresentação de "El Cordobés"Ainda como novilheiro, apresentou-se em Lisboa Manuel Benitez "El Cordobés", um dos matadores mais famosos de toda a história. Ficou célebre o seu mano-a-mano com o matador português Armando Soares, a 30 Julho 1964.
25 Julho 1963I Corrida TVA gestão inovadora de Manuel dos Santos impulsionou as transmissões televisivas das corridas de touros. As suas inovações deixaram marcas profundas que ainda hoje perduram. A corrida TV celebrou 50 edições em 2014, sendo uma data marcante da temporada taurina.
8 Agosto 1963Corrida da "Arte Nova"Corrida organizada pelo antigo matador Manuel dos Santos, agora empresário do Campo Pequeno, marcou o confronto histórico entre a ortodoxia de João Núncio e a irreverência de José Mestre Batista, o cavaleiro da "Nova Vaga".
16 Outubro 1966Colhida mortal do cavaleiro Joaquim José CorreiaNo dia e que celebrava 21 anos, toureava no Festival em benefício do Orfanato de Santa Isabel, foi colhido mortalmente pelo touro "Carvoeiro", da Sociedade Agrícola de Rio Frio.
27 Maio 1973Triunfo histórico de João Branco NúncioCorrida das Bodas de Ouro da Alternativa de João Núncio e Alternativa de José João Zoio. Triunfo inolvidável de João Núncio que contava, à data, 72 anos de idade.
11 Junho 1978Alternativa de João MouraJoão Moura vai revolucionar o toureio a cavalo e, anos mais tarde, consolida-se como a primeira figura mundial do toureio a cavalo. Uma brega envolvente, a ligação da lide e a emoção ao cravar, definem o seu toureio revolucionário.
11 Agosto 1983Colhida do cavaleiro José Varela CrujoNa arena do Campo Pequeno foi colhido por um toiro da ganadaria Pontes Dias. Ficou em coma, vindo a falecer 4 anos depois, a 25-12-1987.
18 Junho 1988Corrida de homenagem a AmáliaCartel com António e João Telles, os matadores Jesulin de Ubrique e Eduardo Oliveira, Forcados de Lisboa para homenagear a diva do fado e grande aficionada Amália.
1988 a 1991Despedidas históricasNo final dos anos 80, início dos 90, despedem-se alguns dos toureiros portugueses mais importantes do século XX, como Armando Soares (1988), Mário Coelho (1990) e António Badajoz (1991), um dos maiores bandarilheiros portugueses de todos os tempos.
18 Setembro 1998Colhida mortal do Forcado Pedro BelacorsaNuma das corridas organizadas por ocasião da EXPO/98, o forcado Pedro Belacorsa, dos amadores de Portalegre, ao pegar um touro fere-se com uma bandarilha no fígado vindo a falecer cerca de um mês depois.
23 Julho 2015G.F.A. Santarém sai pela porta grande do Campo Pequeno Na corrida em que o grupo festejava o seu centenário, o forcado João Goes realizou uma pega histórica, aguentando longamente os derrotes violentos do toiro de David Ribeiro Telles, pondo a praça em pé, que pediu três voltam para o forcado. O grupo saiu pela porta grande, a primeira vez que tal sucedeu em 123 anos de história do Campo Pequeno.
Os países taurinos tradicionais são na Europa: Portugal Espanha, França, na América: México, Venezuela, Equador, Colômbia e Peru. No entanto, as corridas de toiros têm vindo a expandir-se em diversas geografias, sobretudo nos EUA e Canadá, por influencia dos emigrantes açoreanos, e na China, onde o espectáculo te despertado interesse e onde se realizaram espectáculos, estando planeada a construção de praças de toiros.
Na Bélgica chagaram a realizar-se corridas de toiros e assistiu-se a um grande desenvolvimento deste espectáculo, fruto da fixação de comunidades açorianas, nos EUA (Califórnia) e no Canadá (Toronto). Os portugueses levaram a corrida à portuguesa à Grécia, nos finais do século e, antes, nos anos sessenta, à Indonésia. Na sua capital, Jacarta, realizaram-se as corridas de toiros com maior assistência da história: num estádio adaptado a praça de toiros, deram-se espectáculos esgotados para mais de cem mil pessoas cada um.
Enquanto Portugal manteve o seu império colonial, realizaram-se corridas de toiros em Angola, Moçambique, onde ainda existem praças de toiros, e Macau. No Brasil as corridas existiram até ao final dos anos 20 do século passado. Na actualidade, para além do espaço continental, realizam-se corridas de toiros na Região Autónoma dos Açores.
Os Moços de forcados são um conjunto de oito homens que entram na arena e, somente com a força dos seus braços, dominam o touro, no final da lide equestre. Actualmente existem cerca de 50 Grupos de Forcados Amadores em Portugal, que congregam em redor de 1.500 Moços de Forcados no activo. Nunca, como nos tempos actuais, existiram tantos grupos de forcados e tantos forcados no activo. Mas qual a origem e evolução desta prática tauromáquica criada em Portugal e uma das marcas distintivas da nossa tauromaquia?
A origem da figura do Forcado e da pega estão envoltas em mistério. Existem poucos dados exactos que permitam conhecer a sua origem e evolução, pelo que existem várias teorias dispares sobre a origem dos Forcados.
Fernando Sommer d' Andrade (1991) atribui a origem dos forcados aos alabardeiros (militares) que antigamente fechavam e protegiam os acessos às praças públicas onde se realizavam os festejos taurinos. Da mesma origem militar viria o nome de "Cabo" atribuído, ainda hoje, ao líder de um grupo de forcados.
Cristina Delgado (2003) remete a origem dos forcados quando os alabardeiros deixaram de usar as alabardas, na proteção dos acessos às praças onde se realizavam os festejos. Os alabardeiros teriam passado a usar os mosquetes. Estes mosquetes eram apoiados numa forquilha ou forcado. Com ele evitariam que os touros saíssem do recinto onde se realizavam os festejos, e em vez de matarem os touros que fugiam, passaram a domina-los com a forquilha ou forcado. Esta mudança teria ocorrido no século XVI.
Botelho Neves (1992) tem semelhante opinião. Os forcados seriam uma reminiscência dos alabardeiros, que na sua função militar, protegiam os acessos aos recintos temporários montados nas praias públicas, onde se corriam touros, tal como a protecção dos acessos aos palanques onde os reis e a corte assistiam ao espectáculo. Se um touro se aproximava de algum desses acessos, os alabardeiros faziam uma formação e empunhavam as alabardas apontadas para o toiro. Este ao investir acabava por se matar contra as alabardas, o que prejudicava o espectáculo, pois tal não devia suceder. Assim, a alabarda teria sido substituída pelo "forcado dos mosquetes", muito semelhante ao actual forcado, que permitia dominar o touro sem o ferir.
Duarte de Almeida (1951) apresenta a tese de que a pega teria surgido como um desporto de elites, praticado pelo rei D. Afonso VI (1656-1683) e o seu irmão, D. Pedro II (1683-1706), que pegavam touros. No entanto, a pega teria raízes no campo e no contacto do homem com o touro, em situações de emergência defensiva.
Na verdade não existem fontes seguras e claras que indiquem quando a pega passou a integrar as corridas de touros em Portugal. A primeira referência documental aos Forcados surge num texto em verso relativo ao dia 10 Outubro 1661, na primeira das três corridas de touros que se celebraram no Terreiro do Paço, comemorando o acordo de casamento entre D. Catarina de Bragança e Carlos II de Inglaterra. O texto tem o título "Festas Reays na Corte de Lisboa, ao Feliz Casamento dos Reys da Grão-Bretanha, Carlos & Catherina, em os touros que se correram no Terreiro do Passo em Outubro de 1661". Além de fazer referência à presença de Forcados no festejo, tem a particularidade de os autores se apresentarem como forcados: "Izandro, Aonio e Luzindo, Toureiros de Forcado". Também neste texto surgem os primeiro nomes que conhecemos de forcados: o Carolla e o Ferro.
Simultaneamente com a hipótese da origem dos forcados derivar dos alabardeiros, existe a tese de que os forcados teriam tido a sua origem nos Monteiros das Chocas. Estes eram os responsáveis por atrair os touros silvestres com as chocas (vacas com cio) para serem apartados e depois conduzidos para a praça. Na praça, o seu papel seria o de protegerem a escadaria que dava acesso direto da arena ao camarote real, usando os forcados como arma de defesa.
Mascarenhas Barreto (1970) diz que até ao século XV, os peões de lança que acompanhavam os cavaleiros para os auxiliarem na luta com os touros, para lhes fornecerem as armas da lide, quando eram encurralados pelos touros contra uma paredes da praça, se defendiam, de armas em riste apontadas ao touro. No século XVII e XVIII, esta técnica de defesa colectiva transformou-se e passou a aplicar-se na "casa da guarda", constituída por monteiros armados com forcados de guerra (tridente de pontas afiadas) e protegidos com uma couraça de anta ou coiro. Com o tempo este tridente teria sido substituído pelo forcado embolado que actualmente é usado pelos Moços de forcados, e que tudo indica é usado desde o primeiro quarto do século XIX.
Assim, segundo esta visão, o papel dos Alabardeiros teria sido substituído pelo dos Monteiros na defesa do palco real, executando a "casa da guarda" quando necessário. Mas há autores que discordam deste papel dos Monteiros. Duarte de Almeida reconhece que os Monteiros das Chocas seriam guardadores de gado bravo, os actuais campinos, e não forcados.
Domingos Xavier (1999) refuta ambas as teorias que atribuem a origem do forcado aos alabardeiros ou aos monteiros das chocas. Este autor defende que a pega teria tido origem na caça, onde os pajens e lacaios acompanhavam os seus senhores, e por vezes se viam obrigados a agarrar os toiros para lhes dar o golpe final. Por outro lado, a pega também teria uma origem rural, no maneio do gado da terra, por exemplo nas ferras. Xavier refuta também a origem militar do "cabo", o líder do grupo de forcados, pois esse nome também era atribuído a chefes de outras trupes taurinas.
Para Fernando Teixeira (1992) a pega é acima de tudo uma luta entre dois machos, um desafio que se teria repetido ao longo dos tempos nas manobras de captura ou maneio dos touros no campo.
Joaquim Grave (2008) defende uma posição híbrida entre as duas grandes visões correntes. Por um lado a estrutura formal dos grupos de forcados teria uma origem militar e a prática da pega teria uma origem rural, nas faenas de campo.
Provavelmente, perante a diversidade de teorias e a ausência de fontes seguras, nunca saberemos qual a origem exacta desta figura excepcional da nossa cultura, que é o Forcado.
Não sabemos como se faziam as pegas nos séculos XVII ou XVIII, nem porque razão os forcados passaram a fazer parte das corridas. Temos alguma informação, mais ou menos clara, dos últimos 150 anos de evolução da pega, o que é muito pouco, pois ela pratica-se há mais de 350 anos.
A pega sempre esteve dependente das características do touro bravo, tendo evoluído à medida que evoluíram as condições de lide do touro bravo. Na sua origem, supomos que fosse uma ação bastante desorganizada, cujo objectivo seria conseguir agarrar o toiro. No século XIX, com o toiro corrido (lidado mais de uma vez) a pega só podia ser feita à meia-volta, surpreendendo o touro. Nessa época, o cite do touro não era feito como hoje. O forcado da cara não dava grande distância ao touro e o grupo avançava em bloco, sem ordem, atrás do forcado da cara. Nem todos os touros eram pegados. Só eram pegados aqueles que o diretor de corrida julgasse apropriados.
Tudo muda quando se impõe o touro puro e o touro corrido desaparece das praças, pelas décadas de 20/30 do século XX, por influência do cavaleiro João Núncio. D. Fernando Mascarenhas, forcado e cabo do GF Amadores de Santarém, explora esta mudança no touro e da qualidade da sua investida. Passa a citar os touros a maior distância, iniciando o caminho para a pega de caras como hoje a conhecemos, com o forcado da cara a citar o touro a larga distância, o que trouxe uma maior espectacularidade à pega de caras.
A pega foi-se organizando, passando os forcados a estar perfeitamente alinhados atrás do forcado da cara, de modo a que o toiro se fixe unicamente neste. Com a evolução do touro, a pega deixou de ser uma tentativa de "agarrar" o touro, para se passarem a pegar touros "com arte", apesar destes serem mais pesados que nunca, o que trás novos desafios para os forcados.
Evolução da figura do forcado Ao contrário de outras actividades artísticas, os forcados começaram por ser profissionais, acabando na segunda metade do século XX por se tornarem exclusivamente amadores. Vejamos como isso aconteceu. No final do século XIX os forcados tinham habitualmente uma origem social humilde. Eram homens do campo, trabalhadores rurais ou, em Lisboa, assalariados urbanos de baixas qualificações. Frequentadores de botequins, tascas e bordéis onde se vivia uma certa boémia e marginalidade e, também, desabrochava uma nova forma de canção urbana, o fado.
Na transição do século XIX para o século XX, a figura do Forcado não era consensual, era polémico e de reputação duvidosa. Se por um lado sempre teve grande admiradores, outros defendiam que não eram dignos de pisar a arena e que se tratava de um número lamentável de homens à mercê de touros, numa luta bruta, sem arte. As pegas chegaram a estar proibidas, na região de Lisboa, entre os anos de 1880 e 1885, na sequência da morte de dois forcados na praça de touros do Campo de Santana (Lisboa), regressando na corrida de homenagem a Afonso XII, rei de Espanha.
Os forcados profissionais predominavam nesta época. Para muitos ser forcado era uma forma de tentar ganhar um rendimento extra, mais do que uma opção artística ou de aficion. Para superar o medo e a ansiedade natural de quem vai pegar, o álcool surgia como forma de aligeirar o espírito. Isto levou a que, por exemplo, o primeiro regulamento da praça de touros do Campo Pequeno obrigasse que o médico da corrida examinasse todos os membros dos grupos de forcados, para se certificar que estavam aptos para a sua função e não alcoolizados.
Outra situação que levava a que se pedisse o afastamento dos forcados das arenas era o facto de estes fazerem peditórios de dinheiro, depois das pegas, aos espectadores das primeiras filas. Isto estava expressamente proibido e dava uma imagem degradante da figura do forcado. Uma evidência que nos diz que os forcados não eram plenamente considerados no espetáculo, ou que eram vistos como acessórios, é o facto de, em muitos cartéis do século XIX e início do século XX, os forcados não serem referidos, ou então, serem referidos de uma forma genérica e sem identidade: "pegam um grupo de forcados".
Por oposição, excepcionalmente, organizavam-se as chamadas corridas de curiosos ou amadores, corridas típicas do século XIX, onde aristocratas ou burgueses endinheirados constituíam um grupo de forcados para pegar essas corridas, tal como nas corridas régias, numa demonstração de galhardia e coragem. Estas corridas tinham propósito de beneficência, o que ainda enobrecia mais o gesto destes forcados, e os nomes de todos os forcados figuravam nos cartéis.
Avançando o século XX, em 1915, António Abreu fundou o Grupo de Forcados Amadores de Santarém, que celebra 100 anos de actividade ininterrupta. Este grupo de prestígio muito contribuiu para a disseminação do espírito e do modelo do forcado amador, que hoje vigora nos grupos de forcados.
Os Grupos de Forcados Amadores tiverem sempre uma composição diversa, no que diz respeito à origem social dos seus elementos. Uns mais humildes, outros burgueses e vários aristocratas figuraram e figuram nos grupos amadores. Nos nossos dias é muito habitual encontrarmos, nos grupos de forcados, elementos com formação superior, como advogados, engenheiros, médicos, lado a lado com estudantes ou trabalhadores rurais, que ilustram muito bem esta diversidade social, mas também uma crescente urbanização da origem social do forcado, e uma maior qualificação dos seus elementos.
A imposição do modelo amador, que o povo português muito admira, e o aburguesamento da constituição social dos grupos, levou a que o seu prestígio fosse aumentando ao longo de todo o século XX. Iniciado o século XXI, os forcados passam a ser um elemento de prestígio na nossa festa e muito admirado pelo público.
Os forcados profissionais coexistiram com os grupos amadores durante mais de metade do século XX, mas a galhardia, o brio e a entrega do forcado amador, que arrisca a sua vida a troco de nada, impôs-se, tendo os grupos de profissionais desaparecido no final da década de 60 do século passado.
Não temos informação de como seria a farda dos forcados até ao século XIX. Num relato das corridas que decorreram no Terreiro do Paço, em 1661, para celebrar o acordo do casamento de D. Catarina de Bragança com D. Carlos II de Inglaterra, refere o texto:
"Também saem de verde os meus forcados,
libré menos que todas mas brilhante,
mal empregada em gente semelhante…"
Pelo texto sabemos que vestiam uma libré (farda) de cor verde, no entanto, a descrição não tem detalhes para conseguirmos perceber como esta seria. No século XIX temos informação de que a farda dos forcados era constituída por um colete justo em forma de couraça, cinturão largo de fivela, chapéu de feltro de abas largas e desabado, meias brancas, calção de veludo e sapatos de couro atanado. Ao que parece, a última corrida em que os forcados se apresentaram com a couraça de anta foi em 1898, na corrida de comemoração do IV Centenário do Descobrimento da Índia, no reinado de D. Carlos I, com a presença do monarca e da corte. Neste dia os forcados trajaram de jaqueta, calção justo, de tecido verde bordado, meia brancas até aos joelhos e um peitoral de camurça. Este peitoral desapareceu e foi substituído pela cinta vermelha que se enrola à cintura e parte inferior do peito, por cima da camisa e por baixo da jaqueta.
Hoje em dia, a figura do forcado, como habitualmente é designado, ultrapassou fronteiras e "fixou-se" também no México, país onde existem vários grupos a pegar, regularmente, em corridas de cavaleiros e rejoneadores, constituídos a partir de exibições de grupos portugueses, naquele país, desde os anos sessenta do século XX. Mas, apesar desta "expansão", a figura do forcado é e será sempre a marca mais genuína da corrida "à portuguesa".
Desde o início dos anos sessenta do século XX que a arte de pegar toiros despertou interesse dos jovens mexicanos que dela ouviam falar: ou através de turistas que visitavam Portugal ou por influência tanto do cavaleiro mexicano Gastón Santos, que tomara alternativa no Campo Pequeno em 1954, como, posteriormente, através de cavaleiros portugueses que se radicaram no México, como Brilha de Matos e Pedro Louceiro. Também o aparecimento de forcados na Califórnia, onde existe uma grande colónia de emigrantes açorianos, constituiu um importante factor de divulgação da pega junto dos aficionados mexicanos.
No início dos anos setenta começam a organizar-se selecções de forcados portugueses que actuam em importantes arenas mexicanas, designadamente na Monumental da Cidade do México, levando ao rubro os espectadores pela arte, arrojo e valentia que demonstravam perante toiros desembolados, pegando-os de caras. O primeiro grupo de forcados portugueses que pegou no México (Guadalajara, 1 de Fevereiro de 1970), era constituído por Simão Nunes Comenda (cabo), Manuel Augusto Ramalho, João Cortes, Armando Félix e Francisco Chaveiro, do Grupo de Montemor; João d'Orey Pinheiro (Arnoso), do Grupo de Lisboa; António Oleiro Maltez e Francisco Picão Caldeira, do Grupo de Évora. Nesse Grupo fardou-se também de forcado o peão de brega Ludovino Bacatum.
O impacto destas actuações de forcados portugueses levou a que ainda na década de setenta, do século XX, surgissem, no México, os primeiros grupos de forcados constituídos apenas por jovens mexicanos. O primeiro grupo de forcados mexicanos iniciou a sua actividade em 1977. Actualmente estão em actividade os seguintes grupos: Forcados Mexicanos, Forcados Queretanos, Forcados Mazateclos, Forcados Teziutecos, Forcados San Luis Potosí, Forcados Juriquilla, Forcados Hidalguenses, Forcados Amadores de Hidalgo, Forcados San Miguel de Allende e o grupo Feminino de Hidalgo.
Na América do Norte, nos Estados Unidos da América (Califórnia) e no Canadá, como resultado da diáspora de emigrantes açorianos, começaram a surgir grupos de forcados amadores, que participam nas corridas que se realizam nestes países, mantendo viva a cultura portuguesa ao longo das gerações.
Nos Estados Unidos da América o grupo mais antigo são os Amadores de Turlock (1976), contando-se também o Aposento de Turlock, Grupo de Forcado de Artesia e La Merced. No Canadá existem os Forcados Amadores do Canadá. Em ambos os países o número de grupos de forcados tem vindo a aumentar.
O toureio na sua origem era praticado a cavalo, tanto em Portugal como em Espanha, desde tempos imemoriais. Os matadores de toiros, como os conhecemos hoje, só surgiram no século XVIII, depois de o toureio a cavalo ter declinado em Espanha, devido à influência do rei Filipe V (1700), que não aprovava a presença dos aristocratas na touradas, pois precisava dos mesmos e dos cavalos para a guerra. Desse modo, os aristocratas, que toureavam a cavalo, afastaram-se das arenas, tendo os picadores, primeiro, e os matadores, depois, ocupado o seu lugar nas corridas. Em Portugal os aristocratas nunca deixaram de tourear a cavalo. Por isso o toureio a cavalo, típico de Portugal, é mais antigo que o toureio a pé, típico de Espanha.
Depois de muitas gerações de capinhas (bandarilheiros) portugueses famosos, que lidavam toiros a pé, Portugal ainda não tinha nenhum matador de alternativa. O primeiro português a apresentar-se em Espanha, a tourear reses bravas, na categoria de novilheiro, foi Augusto Gomes Júnior (13junho 1946, EM Pamplona). Contudo, o primeiro português a tomar alternativa de matador de toiros foi Diamantino Vizeu (23 março 1947 - Barcelona), abrindo a porta a um novo capítulo da história da Tauromaquia Portuguesa, onde se destacam Manuel dos Santos (15 Agosto 1948 - Sevilha), Francisco Mendes (10 agosto 1954 – Málaga), Armando Soares (30 setembro 1962 – Sevilha), Amadeu dos Anjos (13 setembro 1963 – Salamanca).
Diamantino Vizeu (1925-2001), juntamente com Manuel dos Santos (1925-1973), protagonizou a "Idade de Ouro do toureio a pé em Portugal" durante as décadas de 50 e 60 do século XX, sendo duas figuras do toureio muito acarinhadas pelo público. Manuel dos Santos foi um matador de projeção mundial, tendo sido aquele que mais toureou, em todo o Mundo, na temporada de 1950, com um total de 93 corridas. De então para cá, a lista de Matadores de Toiros portugueses conta já com 40 nomes.
Podem ser dados como referências da história da tauromaquia os cavaleiros:
D. Duarte de Bragança, António Sedvém, Marquês de Belas, Marques de Castel Melhor, o Visconde da Várzea, o Conde de Vimioso (célebre pela sua relação com a prostituta e fadista Severa), D. João de Menezes, Vitorino de Avelar Froes, Fernando de Oliveira, Manuel Casimiro, João Branco Núncio, Simão da Veiga Jr., António Luís Lopes, D. Ruy da Câmara, Francisco Mascarenhas, Manuel Conde, David Ribeiro Telles, Mestre Batista, Luís Miguel da Veiga, José João Zoio, João Moura.
Os grandes matadores da história do toureio foram Pedro Romero, Pepe Hillo, Paquiro, Montes, Tato, Gordito, Lagartijo, Frasquelo, Bombita, Guerrita, Belmonte, Joselito, Manolete, Arruza, Dominguin, Cordobes, Curro Romero, Paco Ojeda, José Tomás, El Juli.
Quanto aos matadores Portugueses Augusto Gomes Jr. foi o precursor e o primeiro a tentar vingar em Espanha como novilheiro. Destacaram-se Dimantino Viseu, o primeiro matador de toiros português, Manuel dos Santos, Francisco Mendes, Amadeu dos Anjos, Armando Soares, Mário Coelho, José Falcão, Vitor Mendes e Pedrito de Portugal.
Portugal tem uma longa e muito importante história de bandarilheiros, na história da tauromaquia. Portugal sempre foi uma terra de bandarilheiros, que até ao final do século XIX se chamaram capinhas, pois eram aqueles que usavam o a capa ou capote.
No século XIX destacaram-se os Irmãos Cadete, os irmãos Roberto, e irmãos Peixinhos. Já no século XX, nos seus inícios, Daniel do Nascimento, Manuel dos Santos, e no último terço do século Bacatum, António Badajoz, Manuel Badajoz.
Não. D. Maria II promulgou um decreto do primeiro-ministro Passos Manuel, em 1836, proibindo as corridas de toiros. No entanto, o desagrado popular foi tão grande, que passados 9 meses a proibição foi revogada e as corridas continuaram até aos dias de hoje. Em nenhuma das leis, quer de proibição, quer de revogação, se proíbem os toiros de morte.
Desde os primórdios da nacionalidade até à primeira metade do século XIX os toiros eram mortos no fim da lide, na arena. No século XIX já só eram mortos alguns dos toiros lidados pelos cavaleiros. Desde cerca de 1837 que se deixaram de matar os toiros em Portugal.
No entanto, a primeira proibição efectiva dos toiros de morte em Portugal data de 1928, no início do Estado Novo. Apesar disso, legal e ilegalmente, mataram-se toiros em diversas ocasiões, tendo sido a última, na Moita, em 2001, quando o matador Pedrito de Portugal matou um toiro no final da lide. A lei de 1928 foi revogada em 2002, tendo os toiros de morte voltado a ser permitidos em Portugal, nos locais onde existisse uma tradição ininterrupta de 50 anos da morte do toiro. Neste momento os locais onde é permitido matar os toiros são Barrancos e Monsaraz.
A corrida com maior assistência da história realizou-se, nos anos sessenta, na Indonésia, organizada por portugueses. Na sua capital, Jacarta, realizaram-se as corridas de toiros num estádio adaptado a praça de toiros. Deram-se espectáculos com cavaleiro, matadores e forcados portugueses que tiveram uma assistência para mais de cem mil pessoas cada um.
Diz esta histórica que, nunca Tourada Real, em Salvaterra de Magos, com a presença do rei D. José I e do Marquês de Pombal, o conde dos Arcos, filho do Marquês de Marialva, teria sido colhido e morto por um toiro, tendo o seu pai entrado na arena para matar o toiro. Em consequência do desgosto, D. José I não teria voltado a realizar touradas reais.
Na verdade esta história é falsa e resulta de uma ficção. Na verdade o Conde dos Arcos morreu num acidente no campo e não durante uma tourada.
O grupo de forcados mais antigo em actividade é o Grupo de Forcados Amadores de Santarém, fundado em 1915 por António Abreu, e que celebra este ano o seu centenário, tendo sido condecorado pela Presidência da República com a Ordem de Mérito. Este é um grupo determinante para a difusão do modelo dos forcados amadores.