A Assembleia Municipal de Lisboa aprovou esta terça-feira, com três abstenções de deputados do BE, um voto de pesar pela morte do jornalista Manuel Andrade Guerra, que morreu aos 75 anos, em 30 de novembro deste ano, "após duas semanas de luta contra a Covid-19 na unidade de cuidados intensivos da ala Covid do Hospital de Santa Maria, em Lisboa".
Apresentado pelo deputado municipal do partido Aliança, Jorge Nuno de Sá, o voto de pesar destaca o percurso profissional de Manuel Andrade Guerra, inclusive que iniciou a sua carreira como jornalista no jornal Diário de Notícias, foi um dos fundadores do matutino O Dia, participou no lançamento do semanário Dez de Junho e era aficionado por tauromaquia: "O jornalismo e o mundo tauromáquico perdem um dos seus maiores e mais respeitados vultos".
Manuel Andrade Guerra foi jornalista no "Diário de Notícias" - onde, além das funções jornalística, assinou também críticas tauromáquicas - participando activamente, por altura do chamado Verão Quente de 1975, no célebre "Grupo dos 24", que defendeu a liberdade de Imprensa, resistindo à "ditadura" editorial então ali imposta pelo novo director do jornal, o escritor José Saramago, de influência comunista. Tal atitude valeu aos vinte e quatro jornalistas a expulsão do seu local de trabalho, uma arbitrariedade que mais tarde viria a ser considerada ilegal pelas autoridades judiciais.
Foi um dos fundadores do matutino "O Dia", dirigido por Vitorino Nemésio e David Mourão-Ferreira, onde permaneceu até 1979, ano em que participa, como subchefe de Redação, no lançamento do semanário "Dez de Junho", o orgão de informação que revelou o nascimento da Aliança Democrática. Neste jornal exerce também as funções de crítico tauromáquico a par com o Dr. Fernando Teixeira e José Sampaio (também antigo jornalista do "Diário de Notícias" e co-organizador, com Raúl Nascimento, das célebres Corridas da Imprensa no Campo Pequeno), trio que se denominava o dos "três Dons" (D. Fernando, D. Manuel e D. José).
Em 1978 desempenhou funções de cronista parlamentar da Rádio Renascença, por impossibilidade temporária do titular do cargo, José Salvado.
A partir de 1980 faz parte da Chefia de Redacção do "Correio da Manhã" e em 1991 Vitor Direito nomeou-o Director-adjunto daquele jornal, que entretanto conquistara a liderança no âmbito da imprensa diária. Sob a sua chefia, o "Correio da Manhã" passa a ser o orgão de informação que mais espaço dedica diariamente à Tauromaquia, através da pena dos críticos Américo Saraiva Mendes e José Manuel Severino.
Nesse mesmo ano de 1980, José Eduardo Moniz convida-o a intervir numa série de debates na RTP, que foram os primeiros programas políticos , ao vivo e em directo, com a participação de público. Entretanto, foi também, fundador e Chefe de Redacção do semanário de espectáculos "Êxito".
Em 2000 começa a desenvolver o projecto "Combatentes do Ultramar", a convite do jornalista e produtor espanhol Manuel Campos Vidal. Só no ano de 2002, a série inicial de três episódios, cada um com a duração de uma hora, foi exibida repetidamente num total de noventa horas pelo Canal História. O êxito alcançado levou a que o tema adaptasse periodicidade semanal, mantendo-se o programa até 2006.