Os ganadeiros dos Açores dizem-se "satisfeitos" com a retoma das touradas à corda, após quase dois anos sem eventos e numa altura em que o arquipélago começa a regressar à normalidade, na sequência da pandemia de covid-19.
"Era a única atividade económica que ainda não tinha retomado nos Açores", afirmou, em declarações à Lusa, a presidente da Associação Regional de Criadores de Tourada à Corda, Sónia Ferreira.
Ao contrário das touradas de praça, as touradas à corda realizadas nos Açores, com maior expressão na ilha Terceira, decorrem nas ruas, em percursos limitados por riscos e encerrados ao trânsito, mas sem cobrança de bilhetes ou controlo de entradas, por isso estavam suspensas desde o início da pandemia.
Esta terça-feira, o secretário regional da Saúde e Desporto, Clélio Meneses, anunciou, em comunicado de imprensa, que estavam reunidas as condições epidemiológicas para que as manifestações taurinas fossem retomadas.
"Ansiávamos por esta notícia e, sabendo que não há qualquer problema para a saúde pública, desde que as pessoas cumpram pequenas recomendações e regras, a nível de uso de máscaras, ficamos de alguma forma satisfeitos que a tourada à corda tenha retomado e não ponha em causa a saúde pública", salientou Sónia Ferreira.
A presidente da associação de ganadeiros disse que, desde o início da pandemia, tentavam encontrar soluções para as touradas à corda se realizarem, mas "eram difíceis de colocar em prática".
"Compreendíamos obviamente todas as situações relacionadas com a saúde pública, por isso acatávamos e tentávamos arranjar formas de a tourada à corda se integrar e poder realizar com os constrangimentos que havia relativamente à salvaguarda da saúde pública", explicou.
Com 82% da população da ilha Terceira com vacinação completa contra a covid-19 e 85% "com contacto com uma toma da vacina", a Autoridade de Saúde Regional decidiu levantar as restrições.
"É um espaço aberto, logo não é obrigatória máscara no exterior, mas é recomendado que as pessoas quando estão muito próximas devam estar de máscaras", adiantou Sónia Ferreira, acrescentando que não haverá controlo de participantes ou outras medidas restritivas.
As autarquias da ilha Terceira, responsáveis pelo licenciamento das touradas à corda, admitem que os primeiros eventos se realizem já na sexta-feira, mas o regulamento estipula que a época taurina decorra entre 01 de maio e 15 de outubro.
A Associação Regional de Criadores de Tourada à Corda está a "encetar esforços" junto dos grupos parlamentares na Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores para que, na próxima semana, possam aprovar um prolongamento excecional da época taurina até 15 de novembro e uma antecipação da próxima época para 18 de abril (segunda-feira após a Páscoa).
"Isso para poder compensar praticamente duas épocas taurinas sem touradas à corda e para que a atividade pudesse retomar a sua normalidade", explicou a presidente da associação.
"A retoma em 2021 é um excelente sinal para que o início da época seja em grande e sem percalços, daí também a importância de se iniciar mais cedo a época para assegurar que eventos que estavam pensados para 2020 e 2021 se possam realizar e não se sobreponham às festas tradicionais", acrescentou.
Num mês em que as condições meteorológicas já não são tão propícias aos eventos ao ar livre, Sónia Ferreira admitiu que existam alguns "constrangimentos" e que seja necessário ajustar os horários.
"Sabemos dos constrangimentos, mesmo para os ganadeiros, ao nível do trabalho de campo não é fácil, mas queremos que haja um sinal de que a retoma da nossa normalidade voltou, para assegurar às comissões de festas que podem começar a trabalhar para 2022", reforçou.
Sem touradas à corda em 2020 e 2021, a maior parte dos ganadeiros teve de "redimensionar" as explorações, mas dos 17 membros da associação todos mantêm atividade, sobretudo devido aos apoios atribuídos por Governo Regional e autarquias, revelou a presidente.
Nas ilhas Terceira, São Jorge e Graciosa, as que têm maior expressão taurina nos Açores, a população estava já "na expectativa que esta atividade retomasse", defendeu Sónia Ferreira.
"Acho que vai ser uma excelente retoma da festividade, porque a verdade é que as nossas festas, as nossas touradas à corda, são uma forma de estar na sociedade e faltava-nos esta atividade, que é grande, para sentirmos que retomámos a nossa atividade, a nossa maneira de estar e de conviver", sublinhou.
Entre 01 de maio e 15 de outubro realizam-se habitualmente na ilha Terceira mais de duas centenas de touradas à corda, que atraem milhares de participantes.