lupi
Março. 08. 2022 Março. 08
Morreu o cavaleiro José Samuel Lupi, uma lenda da tauromaquia

José Samuel Lupi foi um dos nomes mais importantes da tauromaquia equestre mundial da segunda metade do século XX, morreu hoje aos 90 anos, tendo sido um grande embaixador da cultura portuguesa pelo mundo. 

A ProToiro, e as associações que a compõem, vêm por este meio manifestar a sua profunda consternação pela morte do cavaleiro tauromáquico José Samuel Lupi, uma lenda da tauromaquia que faleceu hoje aos 90 anos, considerado como um dos mais importantes cavaleiro da história da tauromaquia mundial.

Para Nuno Pardal, Presidente da Associação Nacional de Toureiros, "José Samuel Lupi foi uma grande figura da tauromaquia, com uma personalidade extremamente calorosa, uma personalidade artística vibrante e a humildade dos grandes Mestres". João Santos Andrade, Presidente da ProToiro, destaca que "Samuel Lupi é uma referência internacional da cultura portuguesa, que projectou a nossa tauromaquia pelos vários países onde exibiu a sua classe e arte tão portuguesas."

José Samuel Pereira Lupi nasceu em 1931, em Lisboa, vivendo toda a sua infância e juventude ligado à Herdade de Rio Frio, pertença da família, que era criadora de toiros bravos e de cavalos, tendo-se desde menino dedicado à equitação e, mais tarde, abraçado a arte do toureio a cavalo. Entre os seus ascendentes constam o político José Maria dos Santos, mas também artistas, como Miguel Ângelo Lupi, e o mestre de equitação Samuel Lupi.

Os seus mestres na arte do toureio equestre foram João Branco Núncio e D. Francisco Mascarenhas. Aos 17 anos apresentou-se em público na praça de toiros Palha Blanco, em Vila Franca de Xira, correndo o ano de 1947. Na segunda metade da década de 50 fardou-se no Grupo de Forcados Amadores de Santarém. 

Ao mesmo tempo que prosseguia os estudos — viria a licenciar-se em Engenharia Silvícola, pelo Instituto Superior de Agronomia —, José Samuel Lupi foi fazendo o seu percurso como cavaleiro amador, debutando na Monumental do Campo Pequeno, em 1955.

Seria na emblemática praça do Campo Pequeno que viria a receber a alternativa de cavaleiro tauromáquico, a 16 de junho de 1963, teve como padrinho João Branco Núncio, e lidou o toiro de nome "Verdugo" da ganadaria de D. Mariana Passanha.

A 12 de outubro do mesmo ano apresentou-se na Monumental de Las Ventas, Madrid, por ocasião da Feira de Outubro.

Com José Lupi, principalmente nos anos em que, acompanhado dos irmãos Peralta – Angel e Rafael – e Álvaro Domecq Romero, integrou "Los Quatro Ginetes del Apoteosis", a maior quadra de sempre da história do rejoneo espanhol, o toureio a cavalo ganhou uma dimensão inédita em Espanha, com presença principal em todas as grandes feiras taurinas. Na temporada de 1971 José Samuel Lupi chegou a tourear 108 corridas de toiros só em Espanha, um número impressionante. 

Exibiu a sua arte e classe pelas arenas de todo o mundo, além de Portugal e Espanha, pela França, Bélgica, México e Venezuela, e como criador de cavalos e ganadeiro de toiros bravos ocupou um lugar de relevo, com os seus dois ferros de Rio Frio e de José Lupi.

A sua vida artística fica ligada ao cavalo "Sueste" de ferro Atalaya, um cavalo que é um verdadeiro mito na história dos cavalos de toureio. A 8 de Maio de 2008 voltou à arena do Campo Pequeno para conceder a alternativa ao seu filho Manuel Lupi.

A história de Samuel Lupi serviu de inspiração ao argumento ficionado do filme "A Herdade" de Tiago Guedes (2019), um dos grandes sucessos do cinema português recente, que se passa na Herdade da Barroca, propriedade do cavaleiro, que retrata a história de um homem, um privilegiado latifundiário que faz o que pode para deixar as suas terras e trabalhadores a salvo dos tentáculos do Estado Novo mas que os tempos da desejada democracia hão de atirar para a desgraça. 

A cultura portuguesa perde um grande Mestre mas a sua obra perdurará na história.